ENTREVISTAS DE EGYDIO COELHO DA SILVA COMO DIRETOR-FUNDADOR DE VOZ DA TERRA DE ASSIS

25-março de 2.008

 

Olá Sr. Egydio Coelho, meu nome é Ana Paula Dias, curso o segundo ano de Jornalismo na FEMA. Estou elaborando um jornal juntamente com meus colegas de sala, e optamos pelo seguinte tema "200 Anos da Imprensa Brasileira", o meu trabalho irá ser tratado a história do jornal Voz da Terra, mais para isso preciso fazer algumas perguntas ao senhor. Conto bastante com sua ajuda.
Desde já muito obrigada
Ana Paula Dias
 
Perguntas
Ana Paula Dias: Em que momentos você acha que o jornal é mais importante?
Egydio Coelho da Silva: Em relação a outras mídias (TV, rádio, Internet) entendo que o jornal não é mais importante, nem menos importante. Parece-me que se complementam.
Na rapidez, o jornal normalmente perde, salvo quando faz reportagem investigativa.
Na formação de opinião pública e na credibilidade, o jornal ganha, inclusive com a certeza de que é lido, relido, consultado por mais tempo e dura para sempre. A necessidade de credibilidade vem da certeza de que uma matéria publicada em jornal exige mais responsabilidade do jornalista exatamente porque pode ser conferida e analisada mais facilmente pelo leitor. Acrescente-se que matéria opinativa em jornal precisa ser mais trabalhada e, por isso, até mais caprichada. E opinião, em outro meio de comunicação não funciona, inclusive porque é censurada pela Legislação eleitoral.


2ª) APD: Em quais momentos você acha que o Voz da Terra teve uma participação efetiva quanto à imprensa local?

ECS: Acho que tanto Voz da Terra como dois outros diários de Assis e as rádios locais têm participação intensa, efetiva e dão boa cobertura aos acontecimentos locais.

3ª) APD: quantos anos têm o Voz da Terra?

ECS: Voz da Terra foi fundada em 14 de julho de 1.963, portanto, este ano completa 45 anos.
4ª) APD: O Voz da Terra já influenciou diretamente a política/ eleições local?

ECS: Voz da Terra, quando o fundei, era jornal eminentemente opinativo, que dava maior destaque a político, mais opinando que informando. Nosso slogan era “Informar para servir”. Houve quem brincasse e perguntasse: “Por que vocês não servem para informar em vez de “Informar para servir”? E tivemos muita influência nas eleições municipais. Era tempo do chamado jornalismo romântico, quando respeitava bastante o direito de livre manifestação de pensamento. Hoje é diferente, existe uma censura e autocensura impostas aos jornalistas pela Lei de Imprensa, pelo Código Civil e até pela Constituição de 88. Hoje o delito de opinião recebe penas altíssimas que colocam em risco a sobrevivência dos veículos de comunicação, o que os obriga a autocensurar seus jornalistas. Colocaram o direito individual acima do direito da sociedade de se informar e do jornalista de informar. De qualquer forma, os jornais conseguem assim mesmo formar opinião pública, até pela seleção de assuntos e pauta de matérias, mesmo dando espaço a quem não o merece. De qualquer forma, hoje, embora se evite opinar a favor deste ou aquele candidato, mostrando sua vida pregressa ou seu trabalho político,os jornais continuam a formar opinião pública e influenciar no resultado das eleições.
5ª) APD:  Como era o momento político quando foi criado o Voz da Terra?
ECS: Eu era presidente do diretório municipal do MTR (Movimento Trabalhista Renovador), cujo presidente Nacional era Fernando Ferrari. Nosso partido se formara por uma dissidência do Partido Socialista Brasileiro. O antigo Jornal de Assis encerrara suas atividades recentemente. O Jornal de Assis dava cobertura à política de centro-esquerda em Assis, que tinha como figuras atuantes: Santilli Sobrinho, Abílio Nogueira Duarte, Tufi Jubran e Hélio Rosas.
A pedido dos companheiros, me propus a fundar um jornal, sonho que alimentava desde a adolescência, para dar cobertura ao nosso candidato a prefeito pelo MTR, Abílio Nogueira Duarte. O prefeito de Assis, cujo mandato estava se findando, era José Augusto Ribeiro.

O candidato que seria apoiado pelos adhemaristas, centro-direita, que tinha o apoio da Gazeta de Assis, deveria ser o professor Clybas Pinto Ferraz, o qual seria derrotado por Abílio. Porém, os adhemaristas, temendo a derrota, conseguiram motivar Rui Silva a ser candidato. Aí a eleição de Abílio ficou difícil, mas mesmo assim a vitória de Rui Silva se deu por pequena margem de votos. Diferente do que tudo mundo pensava, Voz da Terra não parou de circular, após o pleito municipal. Nem mesmo, a perda das eleições e advento da Ditadura Militar alguns meses depois, em março de 64, impediram que o jornal continuasse a circular.


 

Dezembro de 1.999


Sr. Egídio,  Estou novamente enviando as questões.

Sou Eneida Cintra Labaki, aluna do quarto ano do curso de História da Unesp-Assis. Desenvolvo esse projeto de iniciação científica financiado pela Fapesp desde junho de 1997.

Gostaria de agradecê-lo por dispor-se a auxiliar-me nessa pesquisa, concedendo essa entrevista por e-mail.

O projeto, tem como principal fonte de pesquisa a imprensa do interior, no caso os jornais da cidade: Jornal de Assis e Voz da Terra. O trabalho diretamente com as fontes de pesquisa já foi finalizado, e, nesse momento, colho entrevistas de diretores e ex-diretores dos já citados jornais, que serão utilizadas na elaboração do relatório final da pesquisa, nesse sentido sua entrevista será de grande utilidade para a pesquisa.

 

Eneida Cintra: Qual a sua formação profissional?

ECS: Sou formado em jornalismo pela FAAP em 1.973.

Quando terminei a Faculdade, o professor Scatinburgo (diretor da FAAP) me convidou para lecionar, pois tencionava criar uma Cadeira de Jornalismo Regional na FAAP.  Porém, não aceitei porque não dispunha de tempo, pois era funcionário público em horário integral.

Antes mesmo de fundar VT, já tinha tido alguma atividade no jornalismo.

Dirigi uma edição do jornal O Corbiano, órgão de divulgação do Centro de Oratória Rui Barbosa, em 1.960 e também um jornal estudantil, O Cronofo, em 1.961, da Academia de Letras XXI de Abril (Escola Técnica de Comércio Frederico Ozanam).

Quando cheguei a Assis em 03-05-1.962, já levei comigo credencial para ser correspondente de dois jornais da Capital: Gazeta Mercantil e Última Hora e fui correspondente desses jornais até a fundação de VT que se deu em 14-07-1.963. Colaborava também nos dois jornais locais: Jornal de Assis e Gazeta de Assis.

Eneida Cintra: O Sr. Foi um dos fundadores do VT? Por que achou importante fundar um novo jornal para a cidade?

ECS: Como você vê pela resposta acima, eu sempre fui apaixonado por jornalismo.

E desejava muito ter um jornal meu. Além disso, a participação política sempre me empolgou. A oportunidade surgiu quando fechou o Jornal de Assis, que, na ocasião, era dirigido por Tuffi Jubran.

       Eu era presidente do diretório municipal do MTR e decidira apoiar o nome de Abílio Nogueira Duarte para prefeito nas eleições de 1.963.

E o fechamento do Jornal de Assis, que era mais à “esquerda” do que o concorrente Gazeta de Assis, deixou  nosso grupo político, sem cobertura na imprensa local.

       Foi quando, então, me ocorreu fundar um jornal. Em reunião no escritório de Tuffi Jubran, com o Abílio e outros companheiros, Tuffi chegou a sugerir me passar o título do Jornal de Assis e assim eu daria continuidade ao jornal que tinha mais de 40 anos de circulação na cidade.

Eu, porém, não concordei, porque eu já tinha escolhido o nome Voz da Terra.

Eneida Cintra: Existia na cidade outro jornal em 1963, ano da fundação do VT? Se sim, o VT é fundado em oposição a essa jornal?

·        ECS: Existia a Gazeta de Assis, dirigida por Nélson de Souza, que circulava há 10 anos. Pode-se entender que fora fundada em oposição à Gazeta de Assis, pois nosso grupo político era mais à esquerda e janista, e o Nélson era mais à direita e adhemarista.

Eneida Cintra: Que cargo ocupa – e ocupou – no jornal?

·        ECS: Sempre fui o dono do jornal.

Em 1.964, quando precisei adquirir oficina própria, admiti como sócio Odair Macedo Pereira, que já era meu único emprego e o meu amigo pessoal, Antônio João Tirolli, transferindo para eles 40% das quotas da firma.

Mais tarde, com a saída do Odair, admiti Eli Elias, que já era nosso empregado ("menino inteligente e um faz tudo no jornal").

E, na década de 70, admitimos Hélio César Rosas, num esquema para que eu ficasse também sócio da Rádio Difusora de Assis. Hoje detenho 40% das quotas de VT e o restante dos sócios 60%, sendo Eli Elias, o segundo sócio majoritário.

Eneida Cintra: Como surgiu o nome Voz da Terra para o jornal?

·        ECS: Tinha vindo para Assis como funcionário público estadual e, com atividade política intensa, temia que, por problemas políticos, pudesse ser transferido para outra cidade.

Pensei, então, um nome de jornal que servisse para qualquer cidade aonde eu fosse.

E o nome Voz da Terra se encaixou bem sem cair no lugar comum de "A Cidade, A Comarca, Jornal da Região", etc..

Eneida Cintra: Existia, no início, alguma relação desse jornal com o Jornal de Assis?

·        ECS: O Jornal de Assis não foi contemporâneo de VT.

VT nasceu depois que desapareceu o J.A. Antes de fundar VT, eu escrevia artigos para o Jornal de Assis e também para a Gazeta de Assis. Tinha mais afinidade com o J. A. por questão política. Certa vez, escrevi uma reivindicação em forma de verso e publiquei no Jornal de Assis, que era dirigido na ocasião pelo Tuffi Jubran e administrado pelo seu irmão Ramis Jubran.

Porém, o segundo poema não pude publicar no J. A, pois se tratava de versos, com os quais eu reivindicava o funcionamento de curso superior à noite na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis.

Ironicamente, a Gazeta de Assis me publicou o poema.

É que o J.A, ligado a Santilli Sobrinho, que era autor do projeto de lei que criou a Faculdade, não admitia críticas à Faculdade. Se me recordo, o poema dizia: "Faculdade pesquisa/  Pesquisa a didática/ Faculdade noturna/ Pobre não tem vez...

Eneida Cintra: Qual a posição política do VT?

ECS: Sempre batalhei para manter VT em posição centro esquerda. Se não tenho conseguido, às vezes, é porque não moro em Assis e evito impor muito a minha vontade em respeito ao Eli Elias e aos editores do jornal, que moram em Assis e sentem mais de perto o que parece melhor para a cidade. A única coisa, que sempre exijo da equipe, é que VT seja sempre muito cobradora, isto é, cobre dos políticos e dos órgãos públicos serviço a favor da maioria.

Eneida Cintra: Como era (ou é) feita a seleção de matérias para a produção do jornal?

·        ECS: VT é jornal regional, portanto, o noticiário é o assunto do dia. Quanto a assunto nacional e internacional, são os que mais têm relação com o interesse da população da cidade. Em matéria opinativa  (página 2) procuramos dar espaço para várias opiniões.

Eneida Cintra: Quais as mudanças que ocorreram no jornal (visualmente, politicamente...)?

·        ECS: VT passou por todas as modificações gráficas, desde composta em tipos móveis e impressa em máquina tipográfica Minerva até composição e diagramação em computador e impressa em rotativa off set de 4 cores. Inicialmente, seu formato foi tablóide enquanto impressa no primeiro ano na Gazeta de Assis e em máquina impressora Minerva. Depois, passou a ser impressa no formato standard.

Mais tarde, adquirimos rotativa tipográfica (adptada para off-set)e seu formato passou a ser o da máquina, acho que 46 cm de altura por 33 cm de largura.

Politicamente, não houve bem alteração. Há sim uma tendência pessoal que transparece em razão da diferença de visão de cada editor. E o fato de não estar eu residindo em Assis, procuro dar ao Eli e aos editores de VT maior liberdade possível, temendo que o jornal perca o contacto com a comunidade. Isto pode dar alguma incoerência ao jornal, mas maior liberdade aos jornalistas e implica em melhor informação aos leitores.

Eneida Cintra:  Como é - e era – a relação do jornal com outros jornais da cidade? E com o jornal de oposição - se existe – ao VT?

ECS: Fico muito triste quando há alguma polêmica com outro jornal na cidade. Eu mesmo tive alguma briga pelo jornal com Nélson de Souza há muito tempo atrás.

E me arrependo muito disso. Acho até que a divergência de opinião entre os jornais é de certa forma salutar do ponto de vista informativo. O que oriento em VT é para não entrar no campo pessoal e não envolver as empresas jornalísticas na discussão.

O objetivo é discutir o assunto em si, sempre com a finalidade de informar o leitor para que ele forme a sua opinião.

Eneida Cintra: Como o jornal trata temas como a educação, cultura e agroindústria?

·        ECS: Quanto à educação, defendemos a escola pública.

É a pergunta que sempre fazemos "se Governo não serve para cuidar da educação, da saúde e da segurança, para que serve o Governo?"

Quanto à cultura sempre procuramos dar maior espaço possível, mas a nossa editoria é eclética, o espaço infelizmente é sempre reduzido.  Quanto à agroindústria, procuramos dar muita informação sobre o assunto, pois a nossa região é bastante agrícola.

Eneida Cintra: Qual o posicionamento do Jornal em momentos importantes da história do nosso país como, por exemplo, o período da ditadura militar? Enfrentou algum tipo de dificuldade como a censura?

·        ECS: O período mais sério foi mesmo em março e meses subsequentes de 1.964. Todos os nossos amigos e companheiros políticos ficaram assustados. Norberto Ferreira, vereador do MTR e  prof. Onosor Fonseca, tinham sido presos; conversei com Abílio Nogueira Duarte e ele estava assustadíssimo, vendo seus amigos presos e chamados para depor. Eu tinha publicado uma entrevista com o vereador Feliciano Barbosa na véspera do golpe militar. Coloquei o seguinte título: "Feliciano quer lei (reforma) agrária".

Em razão disso, pois quem tinha falado em reforma agrária já era considerado de extrema esquerda, ele também fora preso.

Eu havia, na véspera do golpe, enviado uma carta para Leonel Brizola, dando parabéns a ele por suas posições políticas que ele havia tomado e lhe solicitava entrevista e foto para publicar. Logo após o golpe, li em jornais que as correspondências de Brizola tinham sido apreendidas e em cima delas se fariam investigações.

Além disso, o delegado que fazia a repressão em Assis, cujo nome não me recordo, era radical. Então fiquei, convicto de que seria chamado a depor e até preso. Eu ainda morava em Assis, mas tinha sido removido para Presidente Prudente, pois o delegado regional da Secretaria da Fazenda ao qual era subordinado, de família adhemarista, já havia me removido de Assis.

Assim, infelizmente não me senti com liberdade e não tinha condições psicológicas de publicar matéria sobre a repressão em Assis.

Fico muito triste quando me lembro disso, pois acho que acabei por me auto-censurar mais do que precisava.

Ainda, logo após ao golpe, recebi correspondência de um amigo meu, Ronan de Oliveira, ex-colega de colégio em São Paulo,  que tinha sido preso em Divinópolis, porque criticara no jornal local a atuação da repressão, que fazia o Exército na sua cidade. Lembro que senti vontade de publicar sua carta na qual me relatou o ocorrido em Voz da Terra. Mas infelizmente, não tive coragem.

Ronan faleceu alguns anos mais tarde, pois tinha problemas cardíacos e hoje é nome de rua em Divinópolis.

Censura diretamente, porém, nunca tivemos, talvez porque os órgãos de repressão não tivessem interesse ou organização suficiente para impor essa censura. Lembro-me também de receber uma correspondência do 2.º Exército sugerindo que não se falasse sobre determinados assuntos e pedindo que publicássemos artigos de um articulista falando bem da "revolução". Houve na época também uma perseguição a professores e intelectuais e, em Assis, isto foi muito forte. Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) escreveu um artigo na Folha de São Paulo, intitulado "Terrorismo cultural". Eu, então, tive a "coragem" de escrever um artigo, com o pseudônimo de Araão de Assis,  comentando a crítica de Tristão de Ataíde e terminava por dizer: "...terrorismo esse de que também foi vítima a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Assis". Escrevi também uma crônica, intitulada "Carta do exílio", acho que com o mesmo pseudônimo. Nesta crônica, eu me imaginava um exilado político que falava de sua situação e lembrava  as injustiças da repressão. Evidentemente, que isto que escrevi pouco serviu. Apenas fez com que tivesse simpatia dos professores da Faculdade.

Eneida Cintra: Como tentavam transpor essas dificuldades?

ECS: Como a nossa editoria é regional, a nossa preocupação continuou sendo a mesma. A de fortalecer o partido da oposição, que era o nosso grupo político, que, de certa forma, foi sempre coerente.

Portanto, sempre prestigiamos o MDB em Assis, que era liderado por Santilli Sobrinho, Abílio Duarte, Hélio Rosas e Tuffi Jubran; Tuffi mais tarde, quando prefeito, não resistiu a pressão,  deixou o MDB e se filiou à ARENA. Por isso, foi fortemente criticado na época pela VT. Acho que este caminho nosso foi certo, pois o MDB de Assis sempre elegia dois deputados, um federal, um estadual e elegia o prefeito; era a segunda cidade de São Paulo, onde o MDB era forte; a outra era Campinas. E todos sabemos que a redemocratização do País se deveu à união dos democratas no então MDB. Acho que fizemos pouco, mas fomos coerentes e tivemos alguma participação no fortalecimento do MDB em Assis.

Eneida Cintra: Para o jornal quais são hoje os fatores de desenvolvimento e progresso para a cidade de Assis?

ECS: Assis nunca foi uma cidade de muita indústria. Acho que o desenvolvimento de Assis deve se dar por uma preocupação maior com o traçado da cidade, mais investimento na infra-estrutura e se conscientizar de que a sua vocação, além de agrícola, deve ser a prestação de serviço em sentido amplo, que gera mais emprego do que a indústria de transformação e menos poluição, portanto, pode oferecer mais qualidade de vida a seu povo. 

Eneida Cintra: Qual a importância da faculdade para a cidade de Assis, tanto a Fema, quanto a UNESP?

·        ECS: Quando fui nomeado auxiliar de fiscal de rendas e tinha que escolher uma cidade do interior para morar, escolhi Assis, porque, pesquisando no IBGE, soube que Assis tinha uma faculdade de letras e vim para Assis, pensando em cursar a faculdade.

Não deu certo, porque os cursos eram diurnos. Se naquele tempo, a Faculdade já era um fator de interesse para morar ou escolher como cidade de residência, hoje mais ainda. E o envolvimento do corpo docente e dos alunos na vida da cidade, com certeza, é muito importante.

Eneida Cintra: Em sua opinião, qual a função da imprensa do interior?

ECS: As pesquisas em todo mundo indicam crescimento somente na imprensa regional. A grande imprensa disputa o mesmo espaço, inclusive com a internet. Os grandes jornais em termos de noticiário não sabem como se diferenciar uns dos outros. São quase cronados. Os jornais regionais, na medida em que as cidades crescem, crescem juntos; podem facilmente concorrer com os grandes jornais, além de oferecer noticiário local, impossível de ser feito pela grande imprensa. A função da imprensa é informar o mais possível e debater os problemas da cidade, na certeza de que só um povo, que sabe o que quer, tem um bom governo.

Eneida Cintra: Em que medida ela se diferencia da grande imprensa?

ECS: A diferença é evidentemente a cobertura aos assuntos de interesse regional. A diferença do noticiário da grande imprensa, mesmo quando fala de Assis, é que nós escrevemos para Assis e a grande imprensa, vez por outra, fala de Assis para seus leitores, ouvintes ou telespectadores.

Eneida Cintra: O jornal do interior, no caso o VT, procura ser um formador de opinião?

ECS: Nós nos esforçamos para isso. Acho que ninguém é imparcial. Devemos ser sinceros, mas nunca imparcial.

Porém, como não podemos, nem devemos nos julgar donos da verdade; entendo que deve haver um esforço muito grande por parte da redação para dar espaço a quem tem opinião diferenciada da nossa.

Eneida Cintra: Qual o publico, classe social, ou segmentos que o jornal pretende atingir?

·        ECS: O objetivo é atingir a toda população de Assis.

Eneida Cintra: Acredita que o jornal tenha força política de decisão - ou influência ao menos – em questões políticas?

·        ECS: O jornal tem realmente força política, quando o objetivo é esse. Não é hoje o nosso caso; gosto mais do jornal quando ele não se preocupa com quem está no poder, mas com a omissão das autoridades em enfrentar os principais problemas da cidade e em melhorar a qualidade de vida da população.

Eneida Cintra: O VT representa a cidade, é essa uma de suas funções?

·        ECS: VT não deve representar a cidade, mas sim espelhá-la. Acho que devemos é cobrar das autoridades municipais, estaduais e federais melhor atenção e mais serviço para Assis.

Eneida Cintra: É importante para uma cidade do interior como Assis, ter um jornal que a represente, por que ?

·        ECS: O jornal, normalmente, apresenta ou leva aos poderes públicos em todos os níveis, as aspirações e necessidade de uma comunidade e, por isso, é muito importante. Principalmente aos políticos, que são representantes do povo e tem interesse eleitoral na cidade. Isto faz com que eles saibam o que a cidade quer e necessita.


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