História da fundação dos bairros do Bixiga e do Bexiga

Egydio Coelho da Silva

Caminhos antigos de São Paulo

 

O desenvolvimento de muitas zonas da cidade foi condicionado, em parte pelos caminhos antigos; em seguida, pela estrada de ferro e, recentemente, pela estrada de rodagem.

É evidente que, por onde passavam essas vias de ligação, as atividades comerciais se condensavam, dando origem a pequenos núcleos de população, às vezes em torno dos próprios ranchos ou pousos. 

A planta de São Paulo de 1800-1870, de Afonso A. de Freitas, assinalava a existência de um pouso ou rancho um pouco além da ponte do Ferrão, na futura Av. Rangel Pestana. 

De outro no Lavapés, à margem da Estrada de Santos. De outro no Bexiga, e de outro ainda no Guaré. (1) (2)

O do Bexiga e o do Lavapés, observou Vieira Bueno, eram os mais freqüentados por serem os procurados pelas tropas, que se dirigiam a para Santos. (1) (6)

Devido ao trânsito de tropas e carros de boi, que atravessavam a cidade, em 1791, o governador Lorena teve de estabelecer os pontos, onde as tropas e carros de boi deveriam estacionar. 

Esses carros de boi e as tropas conduziam mantimentos para a cidade, procedentes de Atibaia, de Parnaíba, de Mogi das Cruzes. Aqueles que vinham dos distritos de Atibaia e de Parnaíba, como entravam na cidade pelo Oeste, deveriam estacionar na chácara do Bexiga, entre o Anhangabaú e o riacho Saracura.

Everaldo Valim Pereira de Souza, nas suas recordações, observou que até aquela época (Proclamação da República) o Piques - de onde irradiavam quase todas as estradas antigas - era local onde ainda havia uma porção de pousos para tropas. (5)

Pontes sobre o Anhangabaú

Como observou Caio Prado Junior, a estrutura da cidade foi grandemente influenciada pelo relêvo, que lhe impôs sobretudo as pontes, que, agora, são substituídas por viadutos. Ou, então, por canalização dos riachos e até de rios.

Os leitos do Anhangabaú, do Saracura e do Bexiga, principalmente, dividiam a cidade em compartimentos de comunicação difícil, for çando a construção dessas passagens. (7)(8) (44)

No antigo largo do Riachuelo, que também foi denominado do Piques e do Bexiga, existiram duas pontes sobre o histórico Anhangabaú, que por ali ainda corre canalizado.

A primeira ficava no caminho de Pinheiros, atual Rua da Consolação. Era a ponte do Piques ou do Lorena, nome que lhe deram em homenagem ao penúltimo capitão-general de São Paulo, Bernardo José de Lorena. Localizava-se fronteiriço ao ponto onde começa a Av. Nove de Julho.

A segunda ponte situava-se no princípio da Ladeira de Santo Amaro, era menor e foi conhecida por ponte do Bexiga ou de Antonio Manuel Bexiga, que foi o dono – provavelmente de 1815 a 1842 – da estalagem existente no local. A ponte do Bexiga foi reparada em dezembro de 1829, construindo-se perto um aterro. Em 1831 foi novamente posto em prática o conserto do paredão dela, sendo o mesmo avaliado em 29$880 réis.  

Além dessas pontes existiu também a ponte da Limpeza, na extinta rua da Assembléia, no trecho em que o rio ficou conhecido pelo nome de Ribeirão da Limpeza, por passar pelo antigo matadouro da Rua Humaitá e porque nele também eram feitos os despejos da antiga cadeia do largo de São Gonçalo, atual Praça João Mendes.

Pontes antigas de São Paulo

Saint-Hilaire, quando de sua passagem par São Paulo, em 1819, diz: -

"Existe em São Paulo uma ponte chamada, Ponte do Bexiga, que talvez tenho o nome do estalajadeiro ou de algum predessor". (3)

Em l.822, além do núcleo primitivo edificado no pontal formado pelos dois rios históricos, Afonso A. de Freitas assinalou, em um artigo, os bairros que se estendiam além desses córregos.

Para além da ponte do Lorena (ou do Piques), desdobravam-se os bairros do Piques, de Pinheiros, de Embuaçava e de Pirajuçara, .

E transpondo-se a ponte do Franca, sobre o Tamanduateí, chegava-se na planície, aos bairros do Brás, do Parí e do Tatuapé,

Por volta de 1855

Por volta de 1855, Manuel José da Ponte (provavelmente descendente de Antônio Manuel Bexiga), o pacato e serviçal morador nas imediações do Rio Anhangabaú, que por ali serpenteava e seguia, abeirando a colina por onde é o Parque do Anhangabaú hoje, atravessando por duas pontes (daí o nome do "seu" Manuel José da Ponte) - a do Lorena, no Anhangabaú de Cima e a da Abdicação ou do Açu, perto do antigo mercado de São José, atual Praça do Correio, no Anhangabaú de Baixo. (3)

Estas pontes sempre tiveram sobrecarga de trânsito.

Para a cidade daquele tempo, a sua estrutura de madeira, embora indicada pelo alemão Sydow, proprietário da serraria, estabelecido onde hoje está localizado o Teatro Municipal, não comportava o trânsito todo, que se fazia por elas, notadamente de carros de boi de eixo móvel e rodantes arrombadores de estradas. 

Além disso, de tempos em tempos, as grandes chuvas se incumbiam de demolir e arrastar os pontilhões. A travessia do rio Anhangabaú sempre se constituiu em problema sério para a municipalidade. (4)

Estradas de ferro

Em 1883, Raffard solicitou autorização para construir uma estrada de ferro unindo o Piques a Santo Amaro, e justificava seu pedido alegando que "na feira semanal das madeiras de construção em São Paulo, no Largo do Riachuelo, antigo Bexiga, nas sextas-feiras e sábados acodem 300 carros de eixo móvel". (3)

No entanto essa estrada não foi construída porque, após o advento da ferrovia, o comércio do Piques começou a decair, mudando para a zona da Estação da Luz. (5)

 

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Referências bibliográficas – desta página  

 

 

 

 

 

 

(1)

Marzola, Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- págs. 40/41.

 

(2)

FREITAS, Afonso A. de - Plantas História de São Paulo, período de 1800/1.874.

 

 

(3)

Marzola, Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- págs. 47/48.

 

(4)

Moura, Paulo Cursino de - São Paulo de outrora, pág. 108.

 

(5)

Souza, Everardo Valim Pereira de – A Paulicéia há sessenta anos – Revista do Arquivo Municipal, CXI, pág. 57

 

(6)

BUENO, Francisco de Assis Vieira – “A Cidade de São Paulo – Recordações Evocadas de Memória” –  Rev do Centro de Ciências, Letras e Artes, Campinas, AnoII, n.ºs. 1, 2 e 3.  

 

(7)

Marzola, Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- págs. 40/41.

(8)

PRADO JR , Caio Nova Constituição para Estudos Geográficos da Cidade de S. Paulo”, Estudos Brasileiros, Ano III, vol.7

 

 

 

 

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Referências bibliográficas - todas

 

1)            Dicionário de História de São Paulo – Antônio Barreto do Amaral – Coleção Paulista; V.19 – 1.980 – Governo do Estado de São Paulo.

2)            Câmara Municipal de São Paulo: 1560-1998: Quatro séculos de história/ Délio Freire dos Santos, José Eduardo Ramos Rodrigues. São Paulo: Imprensa Oficial, 1.998, página 70, páginas 67/68, obra citada de Mawe, John.

3)            Idem, páginas 67, 68,69/70, obra citada de Zaluar, Augusto Emílio.

4)            Idem, página 72, citação a Henrique Raffard, artigo publicado no Diário do Comércio do Rio de Janeiro.

5)            Idem, páginas 70/71

6)            Marzola, Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15-" Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- página 15

7)            Idem, página 16.

8)            Gilberto Kujawski (artigo no jornal O Estado de S. Paulo 30-05-2.002)

9)            SAIA, Luís - "Fontes primárias para o estudo das habitações das vias de comunicação e dos aglomerados humanos em São Paulo no século XVI", lnst. De Adrninst. da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, pág. 3 e 4.

10)        TAUNAY, Afonso de E. - Non Ducor, Duco, pág. 211

11)        BRUNO, Ernani Silva - Histórias e Tradições de São Paulo, vol. 1, pág. 205

12)        NOGUEIRA, Almeida - Academia de São Paulo, Viii, pág. 128

13)        FREITAS, Afonso A. de - "São Paulo no dia 7 de setembro de 1822", Rev. do lnstit. Hist. e Geog. de São Paulo, XXII, pág. 3

14)        BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol, 1, pág. 96

15)        PRADO, Paulo - Paulística, págs. 8 e 9

16)        BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol, 1, pág. 96

17)        BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol. 1, pág. 91

18)        SAINT-HILAIRE, Auguste de -Viagem à Província de São Paulo, pág. 89

19)        BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol. 1, págs. 93 e 94

20)        BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol. 1, pág. 45

21)        MORSE, Richard N. - São Paulo - Raízes Oitocentistas da Metrópoi - pág. 474

22)        PRADO Jr., Caio -  op. cit., pág. 229

23)        PRADOJr.,Caio- Forrnação do Brasil Contemporâneo pág-61

24)        Marzola, Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- página 34