História da fundação dos
CHÁCARAS
EM SÃO PAULO
A
área da cidade (ruas e casas) de São Paulo era bastante reduzida no começo
do século XVIII (1.700).
Mas,
o que é uma cidade?
Na
opinião do escritor Gilberto Kujawski
(8),
a cidade representa um abrigo social, espaço de confraternização entre
as pessoas, que saem do “casulo da vida privada para se reconhecerem
umas as outras num âmbito coletivo”.
Em
torno de 1.720, o núcleo urbanizado de São Paulo se concentrava todo no
triângulo, em cujos vértices – lembrou Alcântara Machado – ficavam
as igrejas de São Francisco, de São Bento e do Carmo.
Luis
Saia também observou que a formação da Vila de São Paulo não obedeceu
nem ao tipo clássico – formação em torno da igreja, do mercado e da
casa de administração – nem ao chamado tipo ipodâmico: criado na base
do reticulado e empregado largamente no Brasil
(9).
São
Paulo, até mesmo na segunda metade do século XIX (1.800), era formado
por muitas chácaras.
Século
19 (1.800)
E
a formação da cidade se deu de modo espontâneo, tendo como resultado,
nos primeiros tempos um curioso tipo de aglomeração: povoação de residência
transitória para a maioria de seus moradores principais, que nela
mantinham casas apenas para tratarem de algum negócio, ou então, para
passarem os domingos e dias de festas religiosas. Exceto nesses dias,
poucas pessoas ficavam na cidade. Estavam sempre nas suas chácaras ou então
pelos bosques e campos à cata de índios.
(12)
Nos
primeiros 30 anos do século XIX a área urbana rompeu, um pouco, os
contornos do esquema primitivo, pelo menos em algumas direções,
estabelecendo-se uma certa continuidade entre a zona central e alguns
"bairros", que se desenvolviam para além do Anhangabaú ou do
Tamanduateí, embora esses "bairros" nada mais fossem do que chácaras,
roças, sítios, enfim, áreas semi-rurais”.
Principais
chácaras
As
chácaras, que cercavam a cidade ocupavam grandes áreas, limitando a
povoação por todos os lados:
a)
Mais próxima, entre o Acu e o
Piques, a chácara do Barão de Itapetininga;
b)
ao Norte, além da ponte da
Constituição, a chácara de Miguel Carlos;
c)
ao Sul, da Tabatinguera, a da Dona
Ana Machado; ao Sul também as chácaras do Fagundes e do Cônego Fidélis;
d)
para Leste, depois do Tamanduateí,
a do Ferrão e a do Osório, antiga do Meneses;
e)
a Oeste da cidade a chácara de
Martinho da Silva Prado, onde ficava o tanque Reúno ou do Bexiga e
adiante do Campo dos Curros, a do Marechal Arouche de Toledo Rendon.
f)
a Sudeste,
a chácara da Glória, entre os rios Tamanduateí, Cambuci e lpiranga, e o
sítio do (Página 24 –
Nádia) Tapanhoim, entre o Rio Cambuci, o Córrego do Lavapés e a Estrada
do Mar;
g)
a Sudoeste, beirando o Anhangabaú,
os campos ou Chácara
do Bexiga, junto ao estalajadeiro Bexiga e mais longe o sítio do Sertório;
h)
e a Noroeste, na direção de
Santa Efigênia, mas distante da cidade, a do Campo Redondo.
(13)
Rápido
crescimento
Em
1870 já era evidente o rápido crescimento de São Paulo, e Almeida
Nogueira escrevia que acabava na cidade o "ciclo dos trovadores para
começar o dos industriais".
"O
príncipe perfeito, sua alteza sereníssima, o estudante, ia ser deposto
pelo caixeiro-viajante. Caiam as rótulas, as mantilhas, arruavam-se o
campo do Chá, o Bexiga,
o Zunega, entravam no alinhamento o Brás, a Mooca, a Ponte Grande. A
lenha perdia o encanto, uma servida pela locomotiva, pelo bonde e pelo gás
corrente"
(14)
Em
1855, nos terrenos da chácara do Cadete Santos, a Câmara Municipal abriu
a Rua Formosa -"rua que continuando a do hospital”, dizia em 1853 o
jornal O Compilador, “pela margem
esquerda do Anhangabaú, em terreno do senhor Comendador Santos Silva, vá
sair ao lado da ponte do Lorena, onde indicar a reta, a fim de comunicar
mais comodamente o Acu (São João) com o Piques”. (10)
Era
uma necessidade premente na época e o Correio Paulistano assinalava:
“...esse lugar de grandes transações do mercado (o Piques), o
ponto de chegada de grandes tropas, que vêm do Sul e do interior da província,
acha-se separado de uma bela porção da cidade, igualmente povoada e
concorrida, por um terreno estéril e inútil. Queremos dizer que o
habitante do Piques que quiser ir para o lado da Luz, isto é, a freguesia
de Santa Ifigênia, ou há de atravessar esse desfiladeiro escabroso, que
se chama Rua Nova de São José (Líbero Badaró), ou de galgar esse
penhasco, que se chama ladeira da Rua da Palha (Sete de Abril). (11)
Com
o arruamento e loteamento dos terrenos próximos ao Largo do Piques, logo
foi feito um novo bairro, chamado por muitos de ‘Cidade
Página
inicial da história do Bixiga e de São Paulo antigo
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Referências bibliográficas – desta página (8) Gilberto Kujawski (artigo no jornal O Estado de S. Paulo 30-05-2.002) (9) SAIA,
Luís - "Fontes primárias para o estudo das habitações das vias de
comunicação e dos aglomerados humanos em São Paulo no século
XVI", lnst. De Adrninst. da Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas da USP, pág. 3 e 4. (10) Freitas - Afonso A. de - A imprensa periódica de São Paulo, pág.118.
(11) Correio Paulistano de 18 de julho de 1.854
(12)
TAUNAY, Afonso de E. - Non Ducor, Duco, pág. 211 (13) BRUNO, Ernani Silva - Histórias e Tradições de São Paulo, vol. 1, pág. 205
(14) FREITAS, Afonso A. de - "São Paulo no dia 7 de setembro de 1822", Rev. do lnstit. Hist. e Geog. de São Paulo, XXII, pág. 3
Referências
bibliográficas - todas 1)
Dicionário de História de São Paulo – Antônio Barreto do
Amaral – Coleção Paulista; V.19 – 1.980 – Governo do Estado de São
Paulo. 2)
Câmara
Municipal deSão Paulo: 1560-1998: Quatro séculos de história/ Délio
Freire dos Santos, José Eduardo Ramos Rodrigues. São Paulo: Imprensa
Oficial, 1.998, página 70, páginas 67/68, obra citada de Mawe, John. 3)
Idem, páginas 67,
68,69/70, obra citada de Zaluar, Augusto Emílio. 4)
Idem,
página 72, citação a Henrique Raffard, artigo publicado no Diário do
Comércio do Rio de Janeiro. 5)
Idem,
páginas 70/71 6)
Marzola,
Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São
Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- página 15 7)
Idem, página 16. 8)
Gilberto Kujawski (artigo no jornal O Estado de S. Paulo
30-05-2.002) 9)
SAIA, Luís - "Fontes primárias para o estudo das habitações
das vias de comunicação e dos aglomerados humanos em São Paulo no século
XVI", lnst. De Adrninst. da Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas da USP, pág. 3 e 4. 10)
TAUNAY,
Afonso de E. - Non Ducor, Duco, pág. 211 11)
BRUNO,
Ernani Silva - Histórias e Tradições de São Paulo, vol. 1, pág. 205 12)
NOGUEIRA, Almeida - Academia de São Paulo, Viii, pág. 128 13)
FREITAS, Afonso A. de - "São Paulo no dia 7 de setembro de
1822", Rev. do lnstit. Hist. e Geog. de São Paulo, XXII, pág. 3 14)
BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol, 1, pág. 96 15)
PRADO,
Paulo - Paulística, págs. 8 e 9 16)
BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol, 1, pág. 96 17)
BRUNO,
Ernani Silva - op. cit., vol. 1, pág. 91 18)
SAINT-HILAIRE,
Auguste de -Viagem à Província de São Paulo, pág. 89 19)
BRUNO,
Ernani Silva - op. cit., vol. 1, págs. 93 e 94 20)
BRUNO, Ernani Silva - op. cit., vol. 1, pág. 45 21)
MORSE, Richard N. - São Paulo - Raízes Oitocentistas da Metrópoi
- pág. 474 22)
PRADO Jr., Caio -
op. cit., pág. 229 23)
PRADOJr.,Caio- Forrnação do
Brasil Contemporâneo pág-61 24)
Marzola,
Nádia – História dos Bairros de São Paulo, volume 15- Prefeitura de São
Paulo – Secretaria de Cultura – Dezembro de 1.979- página 34 |