Família Coelho da Silva,
oriunda da Ilha da Madeira

 

(Biografia e autobiografia de gente sem importância)
 

Egydio Coelho da Silva

 

A chácara em Botucatu

Meu avô, João Coelho da Silva (1a. geração), como acontecia com quase todos os portugueses, que chegavam ao Brasil, deveria ser bastante econômico e só gastavam dinheiro em coisas imprescindíveis e o restante guardavam. Mas mesmo assim era difícil fazer economia em pouco tempo, que levasse a poder adquirir propriedades. A chácara em Botucatu, onde me criei, foi adquirida com dinheiro de herança, que minha avó recebeu. Era meio alqueire, na Vila Casa Branca. Não sei se era terra nua, ou se já tinha alguma melhoria, quando adquiriu. Ficava na Rua, conhecida na época como Rua Casa Branca (Vila Casa Branca), hoje é Rua Galvão Severino e a rua acima hoje é Rua Brás de Assis. 

Ficava perto da famosa “Serraria Anônima”, que era uma S/A, cujos maiores acionistas eram os Milanesi.  

Ficava próxima a linha do trem (Estrada de Ferro Sorocabana), que ligava o interior à cpital São Paulo.

Passava próximo à chácara antes de chegar à estação da Sorocabana em Botucatu.

E o entendimento mais lógico e, provavelmente verdadeiro, é que o Brasil vivia o Ciclo do Café.

Como se sabe, o café era praticamente o único produto brasileiro de exportação.

Na época, provavelmente a partir de 1.910 até 1940, a chácara, de meio alqueire de terra, já estava plantada com café. Era pouca terra e a produção, conseqüentemente também era pequena, portanto, pareceria difícil “uma micro-agricultora” exportar café, mas havia uma fórmula, que funcionava muito bem.

As médias empresas de beneficiar café, compravam café aos pequenos produtores, beneficiavam-no e o revendiam no mercado interno. E também exportavam café em grão.

Ela, minha avó, vendia a produção a uma dessas empresas.

Pelo que analiso agora e pelo que me recordo. Praticava-se a chamada agricultura familiar, o que garantia a subsistência da família.
Plantavam-se feijão, milho, frutas.

A chácara era quase inteira plantada de café.

Nas “ruas” dos cafeeiros - o espaço que fica entre uma fileira de pé de café e outra - eram plantados milho, feijão, etc.

Lembro-me de menino da existência de um mandiocal - separado da plantação de café - onde eu costumava brincar em baixo e, para a imaginação infantil, era um esconderijo perfeito, na minha luta de mocinho contra os bandidos.

Frutas havia bastante, como manga rosa, que era plantada na divisa da chácara, com os vizinhos, para não fazer sombra no meio da chácara e atrapalhar a plantação de café.

E havia muitas mangueiras e os vizinhos levavam vantagem também, porque as frutas dos galhos, que ficavam de seu lado, davam aos vizinhos o direito de colhê-las.

Na pior das hipóteses, maduras caiam e eram recolhidas por eles.

 Lembro-me de cáqui, mexerica, abacate e laranja, estas não ficavam na divisa da chácara.

E havia, evidentemente, a horta de verduras, como couve, alface, tomate, etc.

Criavam-se porcos; para mim, numa visão de criança, eram bastantes, mas na realidade não poderiam ser muitos, pois se destinavam apenas ao consumo familiar.

A gordura - eu me lembro bem - era guardada em tambor e usada para cozinha. Aliás, toda a produção da chácara era para a sobrevivência da família, com exceção do café, que era vendido.

Do café, que se consumia, lembro-me apenas de vê-lo moído - depois de beneficiado e torrado por terceiros.

Não sei se era de produção própria ou já era comprado beneficiado e torrado.

Só sei que era moído em casa.

Como se vê, havia uma “organização” de produção para consumo e para venda do que era produzido nesta pequena chácara de meio alqueire de terra.

E, aparentemente, quase que milagrosa, pois, garantiu a sobrevivência da família. Os filhos freqüentaram a escola, todos aprenderam a ler e escrever e completaram o curso primário e ainda fez alguma poupança.

As economias, que minha avó fazia do dinheiro recebido da venda do café em grão, eram aplicadas na construção de casas dentro da própria chácara.

A meta que ela tinha em mente era a de construir uma casa para cada filho. Como ela tinha oito filhos, o objetivo a atingir eram oito casas, o que foi conseguido.

A medida em que ia construindo casas, as alugava o que aumentava a renda familiar.

Os filhos, quando crianças, provavelmente, já a partir dos oito anos de idade, trabalhavam na chácara, fazendo serviços compatíveis com  a idade.

Com certeza, como aconteceu comigo, que desde os oito anos já tinha alguma obrigação a cumprir na chácara.

Isto fortalecia a economia familiar, pois os portugueses, vindos para o Brasil, sempre foram muito econômicos, seja por estarem em terras estranhas, onde a insegurança é muito maior, seja por uma conscientização de que o futuro da família depende realmente de algum “pé de meia” ou patrimônio.

Há uma expressão que a gente usa até hoje, quando se refere ao espírito econômico dos portugueses: “o dinheiro quando entra no seu bolso, não sai nem com ‘habeas corpus’ ”.

E o que tornava viável a existência de uma micro empresa agrícola familiar era a divisão do trabalho entre todos, inclusive os menores.

O ensino, na prática diária de que todos têm obrigação de trabalhar, desde muito cedo, parece-me hoje muito positivo.

A freqüência à escola também era coisa sagrada.

Meu pai e todos os seus irmãos completaram o curso primário. O que era muito na época.

Felizmente, naquele tempo, não havia os políticos, que se dizem defensores de "direitos humanos", que entendem que ensinar as pessoas a trabalharem desde cedo constitui violentar direitos das crianças.

Se existissem, com certeza, a nossa família teria sido desagregada e o ciclo de moradores e meninos de rua, que vivemos hoje, teria começado há 80 anos atrás.

Enfim todos trabalhavam. E como trabalhavam.

Contava meu pai que, em noite de lua cheia, o trabalho, na lida com a plantação, se estendia até 10 horas da noite.

Somente muito trabalho justificaria a sobrevivência da família e até conseguir fazer alguma economia.

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Meu avô paterno

João Coelho da Silva (1a. geração)

(Não tenho foto - se algum parente a tiver favor ceder)

Mãe e pai: nomes não pesquisados.

Esposa: Ana Rosa Gonçalves Coelho da Silva (1a. geração)

Foto em 1.942com ais de 60 anos.

Marido;

Irmãos:

 João, Manoel, Aires e Augusto.  

Filhos:

Manoel, João, Antônio, José, Maria, Ana, Matilde e Marta.